Nos últimos anos, tem havido lançamentos de muitos produtos de áudio digital para
computadores PC, graças à demanda crescente nessa área. Isso se deve não só ao
barateamento da tecnologia em geral, mas também por causa da evolução da capacidade
de processamento e armazenamento dos computadores, que permitiu a transformação
do computador comum em estúdio digital.
Embora a tecnologia de áudio digital não seja uma novidade, pois já existe há algumas
décadas, seu uso prático - e comercial - só passou a ser possível à medida que os
computadores e seus periféricos começaram a cair de preço.
Os recursos gráficos são essenciais para a gravação e edição de áudio nos computadores,
e por isso os primeiras produtos comerciais bem-sucedidos foram desenvolvidos para
Macintosh, que já dispunha de interface gráfica há mais tempo do que os PCs. É por
causa dessa vantagem cronológica que os sistemas ProTools, da Digidesign, ainda
mantêm uma vantagem em relação a seus potenciais concorrentes na plataforma PC/
Windows.
Entretanto, o mercado de hardware e software para PCs vem evoluindo de forma
impressionante, sobretudo pela acirrada concorrência que existe. Isso obriga aos
fabricantes um esforço imenso para obter um espaço no grande mercado emergente. Na
verdade, existem dois mercados de áudio digital para computadores: o profissional,
voltado principalmente para os estúdios de gravação, e o que chamamos de doméstico
(semi-profissional e amador), onde podemos enquadrar os pequenos estúdios e os
usuários amadores.
O mercado profissional exige produtos com qualidade e confiabilidade altas, pois para
que os estúdios possam substituir seus sistemas de gravação convencionais (gravadores
de fita analógicos e digitais), é preciso oferecer-lhes as mesmas condições de trabalho. A
possibilidade de falhas de operação têm que ser muitos pequenas, e o nível de qualidade
sonora deve ser igual ou superior ao que já se dispõe.
Já para o mercado doméstico o que importa mais é o preço, ainda que não se negligencie
a qualidade, pois os usuários amadores em geral não têm como - ou não querem -
investir muito dinheiro em equipamento. Nesse caso, o que pesa mesmo é a relação
custo/benefício, isto é, o produto tem que ser “relativamente bom e suficientemente
barato”.
Em artigos futuros, teremos a oportunidade de analisar melhor os critérios de qualidade e
confiabilidade, e veremos também diversos exemplos concretos de custos e benefícios.
Por que gravar sons no disco rígido ?
O uso do disco rígido (“hard disk”) do computador como meio de armazenamento de som
digitalizado passou a ser interessante quando as suas características técnicas começaram
a atender às duas principais necessidades básicas do áudio digital: capacidade e
velocidade.
Para se digitalizar um minuto de áudio em stereo, com qualidade de CD (16 bits a 44.1
kHz; veremos esses detalhes em outro artigo), são necessários cerca de 10 megabytes.
Dessa forma, para se gravar uma música inteira de, digamos, uns três minutos,
precisaremos de mais de 30 megabytes. O conteúdo inteiro de um CD possui mais de
600 megabytes de dados.
No caso de um gravador de estúdio, que precisa ter diversas “trilhas” de gravação (e não
apenas os dois canais do stereo), cada trilha ocupa mais de 5 MB por minuto. É fácil
perceber que para ser viável, num estúdio, o sistema de gravação em disco rígido deve
ter alta capacidade de armazenamento (os discos atuais têm capacidade média de 2.5
gigabytes ou mais; um gigabyte equivale a mil megabytes).
A outra condição essencial, a velocidade, diz respeito à rapidez com que o software pode
gravar (“escrever”) os dados digitais do som no disco rígido. Um único canal de áudio
precisa transferir os dados à uma taxa de cerca de 100 kylobytes por segundo. Assim,
para se ouvir, simultaneamente, as várias trilhas de gravação que estão no disco rígido, é
preciso haver uma velocidade de transferência de dados suficientemente alta. Essa
velocidade depende do tempo que o disco leva para “encontrar” os dados e depois
transferi-los à memória do computador. Os discos rígidos do tipo IDE-ATA chegam a ter
tempos de acesso inferiores a 9 milisegundos (ms), e taxa de transferência acima de 2.5
MB/s.
Portanto, mesmo os computadores “comuns” têm hoje capacidade para operar
razoavelmente com gravação de áudio digital. Para quem precisa de maior desempenho,
existem discos mais rápidos (tipo SCSI), que têm velocidade superior aos IDE-ATA, a um
custo também relativamente maior. As memórias RAM também vêm caindo muito de
preço, o que permite maior bufferização dos dados (armazenamento temporário na
memória, antes de salvar no disco), aumentando ainda mais o desempenho do sistema
como um todo. Quanto à capacidade de processamento dos chips, qualquer um percebe o
quanto vem crescendo (Pentium, Pentium MMX, Pentium II, etc).
Assim, os computadores tornaram-se uma ótima opção para a indústria de áudio, que
passou a desenvolver os “acessórios” (placas de áudio e software) que podem
transformar um PC comum em gravador de áudio.
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