segunda-feira, 27 de junho de 2011

As Escalas


Por que a música árabe soa como “música árabe” e a chinesa soa como “música chinesa”? Por que uma melodia nos soa como Blues e outra como música medieval...?
A resposta é: Entre outros fatores como a instrumentação e os importantes aspectos rítmicos, em grande parte é pela escala que utilizam. Em outra palavras, pelas distâncias ou intervalos existentes entre as notas que são usadas para construir as melodias.
Devemos considerar as escalas, ao invés de uma série de sons, numa série de intervalos entre as notas a partir de uma principal (salvo as escalas simétricas que não precisam de um ordenamento hierárquico). No final de tudo o que as constitui são essas distâncias e não os sons por si só.
Cada escala é como um ”idioma” diferente (ainda que algumas soem mais como um dialeto). Muitas delas representam culturas de um modo mais ou menos amplo. Algumas não as conhecemos o suficiente para que possamos chegar ao “sentimento” tal e como foi composta por seus autores (à margem da descodificação particular que se gere dentro de nós mesmos, gostos, e etc.).
Não é tão difícil de entender, se por exemplo, tocarmos somente as notas sustenidos de um piano serão construídas frases que provavelmente soarão algo parecido como a música “étnica” (ou parte do que associamos com a música “étnica”). Provavelmente se tivermos usado valores de duração muito simples (semínimas, mínimas ou colcheias) talvez soe como algo oriental, e por mais de uma vez nos virá à cabeça algo como “música chinesa”, e o que nos lembra isso?... Isso não quer dizer que as notas sustenido são as notas utilizadas para se compor música “étnica”. Não realidade são as distâncias, os intervalos, entre cada uma das notas que compõem uma das escalas mais populares do Oriente (e não somente do oriente), estou me referindo à escala pentatônica, em particular a Pentáfona diatônica (existem muito mais, algumas também conhecidas como a Hirajoshi, a Kumoi, etc). Esses intervalos podem gerar o som que desejarmos. O som de partida nos indica a tonalidade em que está a escala (se este som é o Dó, então a tonalidade é Dó, se a nota de parida é Mi bemol: então o tom é Mi bemol...). Os intervalos a parir da primeira nota são os que nos indicam o tipo de escala.
ESCALA PENTATÔNICA (Pentáfona diatônica na tonalidade DÓ):
A escala pentatônica é a escala base de muitas culturas e também de estilos “modernos” como o Blues e o Rock. Mas não é somente a escala, e sim também a forma de articulá-la, o ritmo (o swing, por exemplo, marca bastantes distancias) e alguns outros elementos, são os que teminam por definir melhor a linguagem (ou pelos menos um “dialeto”)
Se introduzirmos uma nota entre o Lá# e o Si# (entre as duas últimas notas sustenido do grupo de três) veremos que ela deixa de soar oriental e começa a soar mais como um Blues, independentemente da melodia que estivermos improvisando.
ESCALA PENTATÔNICA (menor) COM A NOTA BLUES (em Lá):
Conhecer a “sintaxe” de uma escala ajuda a aconhecer melhor a linguagem musical a que pertence. Mesmo que seja uma música que soe estranha para nós, se sabemos como estão ordenados os sons com os quais construímos a melodia, podemos segui-la e começar a compreender melhor o ela, a melodia, está nos dizendo. Evidentemente com toda a abstração que contém a arte da música por si só. No entanto, iremos perceber com mais clareza aquilo que a melodia pretende nos transmitir.
Quantas vezes temos visto pessoas de outras culturas emocionarem-se com melodias que para nós nos parece ter pouco sentido, ou melhor dizendo, que a nossa cabeça custa a entender? Isso se dá porque não conhecemos sua constituição hierárquica nem suas cadências mais comuns (finais de frase, pausas, etc).
Em certos casos, algumas melodias que usam escalas mais “primitivas” ou conceitos culturais muito tradicionais, possuem poucas variáveis, já que utilizam linguagens que sintaticamente foram pouco desenvolvidas ao longo da história. Mas isso não quer dizer que delas não se inicie o mesmo objetivo ou a mesma mensagem emocional que às vezes levam à grandes sinfonias. Quem convive com essa simplicidade, é capaz de tirar de melodias simplórias um grande tema musical. E não dizendo de forma pejorativa, poderia nos transladar facilmente de uma forma mais despectiva, para parta da cultura musical moderna de massas...
Se somos compositores e recebemos uma encomenda de um tema musical para ambientar uma cena de uma rua do Marrocos, não irá nos bastar usar somente uma biblioteca de samples dos instrumentos típicos do lugar. Para que tudo soe real temos que fazer uso de uma escala típica da música árabe, que são escalas normalmente de sete notas que e algum momento introduzem intervalos de tom e meio entre duas notas para enfatizar justamente este intervalo, como por exemplo a escala Hispano – Árabe (Também classificada no ocidente como duplo-harmônica). O tema do ritmo também pode ser determinante dependendo do gênero (em alguns casos evidentemente é essencial).
ESCALA HISPANO-ÁRABE (em Dó):
Existem situações onde a música escrita em linguagens que conhecemos nos estimula por que desviam de regras ou nos levam por caminhos mais inesperados. Como poderíamos perceber algo assim em um concerto de outra cultura ou em um concerto de música contemporânea onde são utilizadas outras linguagens? Como poderíamos aproveita esse evento e saboreá-lo como deve ser saboreado? Uma das forma s de se fazer isso seria analisando sua linguagem de um modo consciente para que assim a possamos conhecê-la melhor, ainda que exista uma forma bem mais simples que consiste em devorar grandes doses de música desse tipo, já que este tipo de conhecimento normalmente penetra em nós por si só, tal e como nos ocorre com as escalas diatônicas ocidentais (para que fique mais claro, por por exemplo, a escala maior). 
ESCALA MAIOR (em Dó):
Que fique claro que a maioria das pessoas que desfruta da música árabe não “sabe” música, da mesma forma que existe muita gente que fala e que entende dois idiomas sem nunca os ter estudado. Parece que o nosso cérebro está pré disposto a se comunicar musicalmente como ocorre com a linguagem convencional. Da mesma forma que, quase de maneira automática, ao aprendermos um idioma vamos “absorvendo” a linguagem musical que nos rodeia.
Dissemos no início que nem todas as escalas são hierárquicas, ou seja, que possuem um som principal a partir do qual se ordena o restante. No momento em que existem diferentes intervalos entre alguns dos é muito complicado que não exista um que sobressia e possa ser observado como centro gravitacional. A maneira mais fácil de evitar isso é que todos os sons se encontrem com a mesma distância, intervalo (mesmo que também existam métodos de composição para que um dos sons se perceba como sendo a tônica).
ESCALA EXÁFONA (ou de tons inteiros. Começando em Dó, mesmo que sonado independentemente da nota de início):
É lógico que o assunto Escalas é muito mais amplo do que o que foi comentado aqui. Cada escala pode chegar a ser um universo em si mesma. Existem centenas de escalas e infinitas variáveis de cada uma, sobretudo como levamos em consideração as que surgem de uma afinação tradicional e chegamos as doze semitons, ou escalas sintéticas.
Aqui temos alguns exemplos de escalas:

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