domingo, 6 de agosto de 2017

Dicas & Truques na captação e gravação de instrumentos musicais (parte 14)

Uma introdução aos compressores de áudio

A compressão é o efeito de áudio menos compreendido e mais confuso que existe. É facilmente perceptível que o seu uso é obrigatório, apenas ao observar os gráficos dos níveis de volume da nossa mesa de mixagem, mas o que faz cada botão e como funciona um compressor? Aqui tentarei responder responder a estas perguntas assim como o “quando” e “como” usar a compressão.

Primeiro vamos começar explicando os princípios básicos dos intervalos dinâmicos numa gravação. Primeiro temos o ruído base. Este é o som de menor volume, de nível mais baixo, onde se encontram os “hiss” e a interferência elétrica “hum”residual. Em seguida temos o nível nominal, que será o mais
apropriado para gravar o sinal emitido com o objetivo de minimizar a distorção e sobrepor-se ao ruído base. A relação entre o ruído base e o nível nominal é chamada de relação sinal-ruído. Depois temos o nível máximo, que começa quando o seu sinal de emissão o atinge e é aqui que a distorção
começa. Este é o nível máximo dentro dos intervalos dinâmicos.

A distorção deve ser definitivamente evitada, a não ser que você tenha experiência nas técnicas de saturação (por vezes os engenheiros de som tentam distorcer ligeiramente o sinal até um certo limiar para conseguir obter um som mais “cheio” e com mais “força” – imitando os mais antigos gravadores de fita analógica -, mas por outro lado se você tentar fazer este processo em formato digital talvez não consiga obter bons resultados).

A diferença entre o nível nominal e o nível máximo irá ser o seu espaço de manobra. Esta é a sua zona de segurança e onde irá registar alguns picos extraviados sem atingir o nível máximo. Para finalizar este tema, ao espaço entre o ruído base e o nível máximo damos o nome de intervalo dinâmico.



Como funcionam os compressores?

Imagine-se num cenário onde irá proceder a gravação de um canal no seu gravador multicanal. Após ter definido um bom nível para iniciar a sua gravação, (o qual se irá encontrar próximo ou será mesmo o próprio nível nominal), repara que o sinal recebido por vezes atinge o vermelho. Isto por
norma será característico do instrumento que está sendo tocado. O músico não irá querer que estas distorções sejam gravadas, pois iriam com toda certeza estragar o que de outra forma seria uma boa performance - é aqui que o compressor será necessário.

A Alesis Company emitiu há algum tempo atrás um documento, explicando o funcionamento dos compressores, fazendo uma analogia, na qual o compressor é equiparado a um engenheiro dedicado e particular para um determinado canal, pois irá monitorar todos os sinais recebidos e atuará baixando
os níveis assim que um pico ocorra. Numa explicação mais técnica, o que o compressor na verdade faz é ler os sinais recebidos e depois de acordo com a taxa de compressão que se predefiniu, baixar o sinal que atingiu o vermelho para dentro da relação pré-estabelecida.

Acho que você deve estar querendo saber o que significa a taxa de compressão, não é? Irei explicar em seguida as cinco principais funções.

1. Threshold

Pense nele como o nível de decibéis a partir do qual a compressão irá iniciar. Visualize o threshold como uma linha que irá passar pelos picos e quanto mais baixo for o threshold mais o sinal recebido será comprimido. Isto acontece pois o pico do ruído encontra-se por cima do nível estabelecido do
threshold e desta forma irá haver mais para comprimir.

2. Definição das relações (Ratio)

Este botão terá diferentes relações como 2:1, 3:1, 4:1, e por norma qualquer combinação entre estas. Assumindo que optou por uma relação de 3:1 isto significa que por cada 3 db que recebe do sinal que ultrapassa a linha do threshold o compressor só vai permitir a passagem de 1db, este ainda irá ultrapassar o nível do threshold mas pressupondo que o definiu com o nível suficientemente baixo e que utilizou a relação apropriada, este pico nunca atingirá o nível máximo e consequentemente não irá distorcer.

Por regra costuma-se definir a relação primeiro e depois o ajuste do threshold para atingir o ponto em que o sinal recebido é comprimido. Isto é feito enquanto se observa os medidores da mesa de mixagem, pois assim poderá observar todos picos de ruído a baixarem dentro da mesma relação a qual estará próxima do nível nominal. Não se esqueça que se o nível estabelecido do threshold for inferior ao nível de recepção do sinal ou o nível de threshold esteja muito alto o sinal não será afetado.

3. Attack

Pense no attack como a velocidade em que o compressor começará a atuar nos picos assim que estes ultrapassem o nível do threshold. Alguns instrumentos possuem um som de ataque muito elevado, mal sejam tocados e maioria dos picos surgem deste grande nível de ataque. O que significa que para instrumentos como baixo ou o bumbo iremos querer defini-los para um ataque rápido.

4. Release

O release define com que velocidade o compressor deixará de afetar o sinal recebido assim que este descer abaixo do nível definido do threshold.

Podemos regular este parâmetro para que seja rápido e cortar o sinal quase de imediato ou definir como lento o que resultará em sons com mais sustain. Muitos guitarristas usam dessa forma para sustentarem as notas por longos períodos de tempo.

5. Output ou Gain

A última função é o ajuste de saída. Normalmente quando regulamos o threshold em valores baixos e o compressor entra para baixar o sinal, o nível nominal desce ligeiramente, dependendo da quantidade de compressão que estamos usando. Podemos então ajustar o botão de saída para tornar o nível do output para nominal. Devemos ter o cuidado com este passo pois ao elevar o sinal para o
nível nominal estaremos também aumentando o ruído base, pois estaremos também adicionando o som do próprio compressor. Podemos querer adicionar um ganho no canal para que passe para o compressor mais sinal puro (original).

Existe uma outra função que não existe em todos os compressores, esta opção permite alterar entre o modo “hard knee” e “soft knee”. O modo “hard knee” permite que no momento em que o sinal ultrapassa o threshold este é comprimido em toda a sua extensão segundo a relação imposta. Com “soft knee” selecionado a compressão é efetuada de uma forma mais calma, para que não pareça tão abrupta. Esta função é similar ao attack, e o modo “hard knee” resulta bem para guitarras, baixos e
bumbos.

Como ligar um compressor?


(continua na próxima postagem)...



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