Autor: José A. Medina (Blackwaves Estudios)
Por todo esse tempo que venho me dedicando ao mundo dos estúdios de gravação tenho me encontrado com gente de toda classe. Pessoas com mentes abertas, já outras nem tanto, e ainda com gente com mente tão fechada como a porta de um convento. Mas se tem algo que aprendi deste trabalho é realmente saber que nesse mundo não existem regras. Muita gente leva as mãos à cabeça quando tem que fazer alguma coisa em um estúdio, quase nos chamando de herege e lamentando que não nos levem para ser queimados numa fogueira em praça pública. Você poderá pensar que isto somente acontece em coisas muito específicas, mas não é bem assim.
Hoje em dia a Internet mudou tudo. Se alguém necessita de informação, tão somente abre o Google, digita o que precisa, e centenas de links são apresentados com as respostas. Quando iniciei no mundo do áudio a coisa era muito diferente. Não havia outra forma de aprender que não fosse frequentar alguma escola ou curso, ou mesmo frequentar uma biblioteca que possuísse algum livro relacionado com áudio, algo muito difícil de encontrar, na minha cidade natal isso nunca acontecer. Antes, devido a falta de informação, aprendíamos sendo curiosos e colocando a mão na massa, testando e experimentando. De certo modo fui um privilegiado, no sentido de que eu, ao não ter uma base de por onde começar, tirava minha própria conclusão baseando-me na minha experimentação e não através do que um professor me ensinava. Às vezes leio que o Bob Katz faz tal coisa, e muitos pensam que não exista outra forma de fazer. É lógico, evidente, que é muito saber como os outros fazem tal coisa, mas temos que ter personalidade para atuar em um mundo tão criativo como é o mundo do áudio. Não posso escrever neste texto como vejo e como façco as coisas, pois existem milhares de formas diferentes de ver e de fazer. Por isso, não encare esse texto como um Bíblia a se seguida literalmente, e sim como apenas um ponto de vista a mais.
Não tem muito tempo um estudante de áudio me fez uma visita no estúdio para ver um pouco de como faço minhas mixagens e o que mais lhe chamou a atenção foi a forma de como uso compressores e equalizadores. Ele me disse: “Ué?, Você coloca um compressor antes de um equalizador? Na minha classe o nosso professor nos disse que temos que equalizar sempre antes de comprimir”. Respondi: Bom, creio que seu professor não tenha usado uma palavra tão forte como SEMPRE, talvez ele tenha dito “o normal é equalizar antes de comprimir“".
Eu nem sempre associo o fato de usar um equalizador com a ação de equalizar. Para mim, equalizar algo implica numa alteração perceptível no timbre da trilha. Quando tenho uma trilha sempre penso no uso de equalizadores de três formas diferentes:
1. Eliminar aquilo que não é necessário: Por melhor que esteja gravada uma trilha sempre existem coisas que sobram. O exemplo mais claro disso são as frequências graves que nada somam na sonoridade. Eu utilizo tantos filtros passa-altas quanto a quantidade de trilhas que tenho de mixar. Além disso sempre existem algumas ressonâncias que temos de limpar antes de continuar trabalhando com a trilha. Para eliminá-las uso a técnica de varredura com larguras de bans bem estreitas para identificar tais frequências molestadoras. Eu não considero isso como equalizar, já que estes pequenos ajustes não vão causar uma variação tímbrica apreciável. Às vezes faço essas correções no processo de edição e outras deixo para quando realmente me ponho a mixar, isso depende muito do material que tenho em mãos.
2. Colocação na mixagem: Conforme vamos adicionando trilhas na mixagem o normal é que, devido ao efeito de mascaramento, as frequências de umas trilhas choquem com as de outras. É importante fazer reduções (preferivelmente) ou reforços (quando não houver outro jeito) para fazer com que todas as trilhas soem bem em conjunto. É importante não ouvir as trilhas isoladamente quando estamos ajustando este tipo de equalização, já que de nada adianta retocar frequências que chocam com outras trilhas se não ouvirmos onde está o problema. O fato de uma trilha somente soar estupendamente não nos assegura que esta mesma trilha soando juntamente com outras terá o que precisamos na mixagem.
3. Ajuste de característica: Isso é o que a maioria das pessoas entende como eqqualizar. “Esta guitarra soa um pouco apagada? Então vamos lhe dar alguns dB’s nas médias agudas“. “Esta caixa soa um pouco apagada? Então vamos lhe dar um pouco de brilho em 6kHz e ver se conseguimos melhorar a coisa“.
Normalmente costumo dedicar um equalizador iondependente para eliminar aquelas frequências que nao quero. Normalmente uso o EQ III da Digidesign (ou o Dynamic EQ da TC Electronic nas trilhas mais rebeldes). Outra boa ferramenta para isso é o apQualizr da apulSoft, que venho testando a pouco tempo e a cada vez o utilizo mais. Esses euqalizadores me permitem uma largura de banda muito estreita com altos ganhos (mais o Dynamic EQ que o EQ III), o que me permite buscar facilmente as frequências que molestam e aplicar nelas boas reduções sem alterar em demasia as demais frequências. Para a colocação na mixagem e ajuste da característica a coisa pode variar muito, tanto na colocação como nos equalizadores utilizados. Às vezes uso um só equalizador para as duas funções e em outras uso dois equalizadores dedicados, por exemplo quando quero imprimir uma característica determinada com equalizadores muito identificáveis, como um Pultec. Somente uso esse equalizador para o ajuste da característica e outro para a colocação na mixagem. colocar um ou ouro antes depende da situação. Às vezes gosto da característica intrínsica do que foi gravado e faço o ajuste do som antes de colocá-lo na mixagem, e outras coloco antes e depois ajusto. Como já disse, nesse mundo do áudio não existem regras. O que posso dizer é que o equalizador de eliminação de coisas inúteis só o toco uma vez e não mais, enquanto que os de ajuste e colocação não deixo de tocá-los conforme vou adicionando mais trilhas na mixagem.
Quanto à compressão, a primeira coisa coisa que temos de levar em conta é que um compressor sempre equaliza (às vezes mais, outras vezes menos, mas sempre, independente da situação, produz uma alteração no timbre que é perceptível). Os compressores, geralmente, costumam realçar os componentes mais proeminentes numa trilha além de imprimir certo caráter pessoal, que por si só possuem. Por exemplo, todos somos capazes de identificar uma trilha onde comprimimos bem com um 1176. Da mesma forma com os equalizadores, sempre penso na compressão com filosofias distintas:
1. Controle de dinâmica: Nas gravações atuais podemos contar quase com tantas trilhas quanto forem necessárias, já que o poder de processamento dos computadores a cada dia aumenta mais. Antes, se tínhamos uma fita de 24 canais, não podíamos ter mais do que isso. Agora qualquer sistema DAW decente nos permite trabalhar com uma quantidade de trilhas que dificilmente iremos superar jamais. Para que tenhamos em nossa mixagem uma dinâmica controlada se faça imprescindíveis tirar muito de compressores nas trilhas individuais e/ou de grupos.
2. Adicionar colorido: Como já disse, dão "pegada", e às vezes essa pegada é justamente o necessitamos numa trilha. Citei anteriormente o 1176, mas existem muitos compressores que servem para, além de comprimir, dar um certo colorido à trilha (LA-2A, LA-3A, Fairchild 660, …).
Na hora de comprimir comprimo quase todas as trilhas (menos a cuja fonte já possua uma sonoridade comprimida). Sempre tento comprimir o menos possível cada uma dessas trilhas. Se não controlamos as dinâmicas de nossas trilhas o resultado pode ser uma mixagem pouco consistente, onde os diferentes elementos apareçam e desapareçam à seu capricho, mas se comprimirmos cada uma delas a mixagem que iremos obter será plana e sem vida. Eu na maioria dos casos, para o controle de dinâmica tão somente reduzo 3 ou 4 dB`s, exceto em trilhas que devem ser bastante comprimidas. Não sigo nenhum método específico, nem no que diz respeito à valores, e nem à colocação. Simplesmente ouço e faço uma análise do que cada trilha precisa, e à medida que a mixagem avança, e vou adicionando mais e mais trilhas, vou modificando tudo de acordo como vou observando.
Essa é a forma como vejo o emprego de equalizadores e compressores durante uma mixagem. Como você já pode adivinhar, esta filosofia me abre uma infinidade de possibilidades na hora de colocar diferentes processadores numa trilha, assim como a quantidade deles e a função que irei tratar em cada um. O ruim dessa filosofia de trabalho é que ela implica em um alto consumo de recursos que são necessaŕios. Às vezes não se pode ter três equalizadores e dois compressores na maioria das trilhas.
O que quero deixar claro é que você de usar e colocar os equalizadores e os compressore na forma e na ordem que lhe pareça oportuno. Caso alguém diga… “isto não se faz assim, se faz assado”, que façam como queiram, mas por favor, nos deixe tabalhar com o melhor resultado que podemos obter, não importando como foi obtido. No final de tudo, o que vale realmente é o que soa. E não como foi feito para soar bem.
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