Gravação e Mixagem de áudio em Linux - Ardour 3
Germano Lins
Que tal um estúdio de gravação e mixagem de áudio digital com qualidade profissional onde a principal ferramenta é uma DAW inteiramente gratuita, rodando em um sistema operacional inteiramente gratuito, sem vírus, sem pirataria, e altamente confiável?
Nos últimos anos o desenvolvimento de aplicativos de áudio para Linux cresceu muito e hoje temos softwares de áudio para todo tipo e todas as etapas da criação e produção de som e música. Há milhares de opções para gravação, edição, sequenciamento, streaming, síntese e MIDI no Linux. Veremos o Ardour 3, uma DAW profissional completa para gravação e mixagem de áudio digital.
Características e capacidades
O Ardour é multiplataforma. No entanto, seu desenvolvedor, Paul Davis já disse várias vezes que sua intenção para portar o Ardour no Windows é nenhuma. Harrison Mixbus fez um grande esforço para portar o código de Ardour para a plataforma Windows, mas o design do Windows faz com que o Ardour não tenha o mesmo desempenho no Windows como tem em GNU/Linux. No Mac, o ardour trabalha perfeitamente, já que o sistema operacional Mac OS X é um primo do GNU/Linux.
Mas o que importa é: "O melhor ambiente para o Ardour é o GNU/Linux".
O Ardour é uma Estação de Trabalho Digital (DAW) não destrutiva. O Ardour chama as suas gravações de áudio de “Clips” (assim como o SONAR da Cakewalk). Os clips sao salvos em uma subpasta chamada “Interchange” dentro de outra que tem o nome do projeto (a mesma estrutura de pastas do Logic Pro da Apple). Nela temos mais duas subpastas: “audiofiles” e “midifiles” Dentro da primeira encontramos os arquivos em *.WAV, em pares se estiverem em estéreo ou únicos caso sejam mono. O motor de rendering do Ardour se encarrega de mixar as trilhas, e de dar-lhes espaço na grade. Os arquivos nunca são duplicados, mas os espaços na grade o são. Quando observamos com mais cuidado o Editor, é mostrado onde e como são ordenados esses “clips”. Na pasta “midifiles” são salvos os arquivos MIDI gravados. O processo para edição é o mesmo.
O Ardour suporta oficialmente LADSPA, LV2 e LXVST. VST é suportado, mas a equipe de desenvolvimento do Ardour diz que a versão ArdourVST não está respaldada por eles porque para que seja compilada é necessário o SDK da Steinberg, o que obriga uso de software privado. No fórum do Ardour são dadas sugestões de como resolver esses problemas.
Na figura anterior são mostrados os três tipos de plugins: LADSPA com o Barry's Satan Maximiser, LV2 com Calf Monosynth e LXVST com Wolpertinger.
O Ardour trabalha com qualquer taxa de amostragem de 44.1kHz a 192kHz. Nada mais é preciso do que o servidor Jack (O Ubuntu Studio já vem com ele instalado e configurado). O JACK, ao ser aberto, coloca o sistema em uma taxa de amostragem única, e o Ardour é aberto já configurado com essa taxa de amostragem. Por exemplo, se gravamos alguma coisa em 48kHz e planejamos abrir em 44.1kHz, não devemos fazer isso, pois o material gravado soará mais lento. Coisas de matemática, mas o que importa é que o Ardour pode ser usado sem medo para gravações profissionais, isso é fato.
O Ardour pode mixar canais e buses infinitos de até 12 ou mais entradas de linha do mixer. Por exemplo, caso seja necessário criar um bus para usar um compressor com sidechain, podemos criar um novo bus e configurá-lo para que tenha três canais de entrada.
Da mesma forma, cada canal e bus possui uma podereosa matriz de conexões onde podemos rotear toda entrada e saída sem a necessidade de abrir o Qjackctl (aplicativo do Linux para roteamento de canais de áudio). Isso é muito útil principalmente nas situações onde se deseja mixar em surround, seja em 2.1, 4.1, 5.1 ou 7.1.
O Ardour pode ser usado para film scoring (criação de trilhas sonoras e musicais para filmes). Isso é uma grande novidade desta nova versão 3.2. Sendo assim, o Ardour pode abrir um vídeo em uma timeline sincronizada via SMPTE e ao mesmo tempo podemos criar um vídeo com banda sonora incluída. Isso é muito interessante, já que não se trata somente de inovar no aspecto do áudio, e sim de propiciar uma solução sólida e profissional numa das áreas mais carentes do mundo GNU/Linux.
O Ardour é capaz de enviar LTC (Linear Timecode). Ou o que se chama de código SMPTE. Isso para que o Ardour possa atuar como Master Clock em ambientes de trabalho que sejam complicados onde se precisa que o hardware e o software trabalhem em perfeito sincronismo.
O Ardour também é capaz de enviar e receber MTC e MIDI Time Clock. Similar ao LTC, apenas com a diferença que aqui falamos de MIDI e do que é necessário para sincronizar sintetizadores, baterias eletrônicas e controles de transporte (superfícies de controle).
O Ardour pode ser controlado por uma grande quantidade de superficies de controle via protocolo MIDI genérico, protocolo Mackie HUI e OSC, sempre e quando o controlador possua seu mapeamento para o Ardour 3. Podemos criar o mapa, o que é um pouco trabalhoso no início, mas com paciência se consegue excelentes resultados.
O Ardour tem a capacidade de mostrar diferentes formatos em seus medidores no mixer. Podemos citar: Medidor por Pico, por RMS, IEC/DIN1, IEC/Nordic, IEC/BBC, IEC/EBU, K20 e K12. Com isso podemos mixar tomando como base as várias regulamentações existentes em vários países e regiões do mundo.
O Ardour é capaz de exportar em vários formatos diferentes; desde WAV e AIFF até os mais exóticos como os formatos BWF, CAF e FLAC sem necessidade de plugins de terceiros, com resolução de 16bits até Double Float (dependendo do formato), com ou sem normalização, e com ou sem tabela de conteúdos para CD. Antes dizíamos que este software poderia ser muito bem utilizado em tarefas de masterização, e é aqui onde suas capacidades de renderização de projetos o torna quase único. São poucas DAW's que deixam criar TOCs desde o zero.
O Ardour está capacitado para fazer monitoramento interno ou por hardware, sempre e quando o hardware assim o permitir. No manual do Ardour (http://manual.ardour.org/recording/monitoring/monitor-signal-flow/) existe um apêndice que esgota o assunto de configurações de monitoração existentes no Ardour.
Por fim, e não menos importante, são as capacidades que o Ardour tem de se conectar com o Freesound para baixar conteúdo livre para os projetos se isso for necessário (e sempre é...).
Resumindo. O Ardour 3 pode muito bem ser usado como ferramenta principal de um estúdio de gravação de áudio de alto nível. E além de tudo isso... é inteiramente gratuito.
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