traduzido por
Germano Lins
Cada vez mais, e devido à tendência dos últimos anos de expansão graças ao desenvolvimento e barateamento das novas tecnologias, vemos mais instrumentos clássicos nos estúdios de gravação. Este ambiente, ainda que a cada vez seja mais frequentado, no entanto, continua gerando certa tensão pelo desconhecido, fundamentalmente porque ao longo dos anos de estudo do músico, muito pouco foi ensinado com respeito às novas tecnologias. Por isso, é quase certo, a não ser que o músico seja autodidata em matéria ou que ele tenha aprendido no método de tentativa e erro, existe uma experiência muito pequena dos músicos clássicos com relação a estúdios de gravação.
No entanto, em muitas situações nos encontramos em situações onde as pessoas responsáveis pelo lado técnico, produtores, engenheiros, etc… têm também outra experiência reduzida quanto ao repertório clássico, assim como questões estéticas e estilísticas da música clássica. Dominam os aspectos técnicos e físicos dom som, unidades de medida, sistemas de microfonação, sonorização, efeitos, etc… mas em muitos casos, quando se trata de gravações não tão comuns no comercial, não estão familiarizados com o estilo de sonoridade e timbre final que o músico clássico procura.
Tentemos entender isso para que o processo de gravação e produção seja o mais rápido e frutífero possível.
O som
Um cálculo rápido nos leva a estimar que um instrumentista clássico pode tocar entre 10.000 e 20.000 horas em seu período de estudante (14 anos em média), o que nos certifica que ele sabe perfeitamente como soa o instrumento que ele toca. Talvez ele não saiba explicar isso tecnicamente, onde então as comparações com outras gravações serão de grande valia. Serviços como Spotify nos ajudam a escolher os sons de mercado, obtendo a referência para o técnico de som. É uma boa ideia por parte deste último solicitar gravações de referência ao instrumentista, para que se possa delimitar o trabalho.
Apesar que paulatinamente isto venha mudando, o música clássico tradicional não se interessa em saber nada de termos técnicos como NT5, C414, Decay, Wet, Comp. Rate, etc… Nunca é demais explicar o que se vai fazer, mas realmente o que interessa ao músico é apenas uma coisa: o som. Por isso é importante o feedback: fazer várias gravações rápidas de passagens soltas, testar posicionamentos de microfones, e depois realizar escutas coletivas para avaliar. Uma vez conseguida a sonoridade correta, é o momento de fazer a tomada definitiva.
O vocabulário
Como foi dito antes, é dever do técnico conhecer o instrumento, e o som que ele produz. E o principal aliado para isso é o próprio músico, mesmo que ele venha a utilizar termos ambíguos ou imprecisos, tais como cristalino, opaco, doce, metálico, suave, escuro, brilhante, com ou sem ressonância, etc… para descrever esse som. A maioria desses termos representam polarizações de zonas de equalização, assim como diferentes durações/mixes de reverb, o que faz necessário ter preparados vários presets de reforços de graves, agudos, e suas combinações, assim como três ou quatro ajustes de reverb. Equilibrando esses ajustes na presença do músico com certeza se chega ao objetivo desejado com maior rapidez.
A preparação
Entrar em um estúdio não é muito comum para um instrumentista clássico. Por isso é bom, antes da gravação, ter uma pequena reunião explicando quais serão os passos a serem seguidos, e as recomendações. Aspectos de como usar fones de ouvido enquanto se grava, ou estar sujeito à um metrônomo, por incrível que pareça podem não ser triviais. Neste último caso, é mais que recomendável enviar uma sequência (MIDI ou áudio) para o músico com as trilhas de referência e/ou um metrônomo, para que se faça um ensaio prévio.
Por outro lado, o técnico deve considerar um dos pontos mais fundamentais de um músico clássico: o seu instrumento é sagrado. Isso significa que, a não ser que o músico esteja usando um outro instrumento do estúdio ou um específico para gravações e não coloque impedimentos, qualquer tipo de fita cola, pinça, ou manipulação direta do mesmo tem que ter uma consulta prévia. Sem execeções.
A roupa
Pode parecer mentira, mas este é um outro ponto importante que deve ser considerado na hora de gravar em um estúdio O músico clássico se movimenta, e muito, e a roupa produz ruídos indesejáveis. Uma série de avisos ao músico sobre isso, incluindo as pulseiras, relógios, brincos, solas de sapato, etc… irá evitar problemas posteriores.
A execução
Entrando na parte musical, temos dois casos onde o clássico entra em um estúdio. O primeiro é o de realizar uma gravação de repertório clássico, onde a música está totalmente prevista e escrita, e o segundo é na introdução de uma sonoridade clássica na música moderna, muitas vezes sendo isso improvisado. Este último é a causa de muitos problemas e perda de tempo no estúdio.
O motivo principal é que, da mesma forma que a formação tecnológica até uns 10 anos, a formação em músicas de estilo de improvisação (Jazz) ficou relegada a um segundo plano na formação dos conservatórios, sendo algo totalmente autodidata em muitos dos casos, enquanto que o aspecto virtuosístico fica ligado ao repertório clássico. Por isso ocorre que muitos músicos ficam parados quando se pede alguma improvisação em uma sequência de acordes. Para evitar este problema e a consequente perda de tempo, nesses casos é melhor ensaiar a ideia musical da improvisação, e depois escrever a partitura dessa "improvisação".
A validação
Pode ser que o instrumentista clássico não possua formação técnica, não domine unidades como os decibéis ou valores absolutos em herts, que não saiba o que é um cardióide, mas com certeza esse músico desenvolveu de maneira incomparável os seus ouvidos. Por isso, uma vez estando tudo gravado, seja nas etapas iniciais ou finais da masterização, o peso da opinião desse músico é muito grande, no que diz respeito à afinação, interpretação, qualidade estética, sonoridade, etc...
Álvaro L. Maroto Conde
Professor de Composição Electroacústica
e Estúdio de Gravação no
Conservatório Superior de
Música de Córdoba.
Analista de Sistemas.
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