Um pouco de história
Em abril de 1989 foi lançado o Cubase 1.0 para computadores Atari. Nascido como Cubit, não era o primeiro sequenciador da Steinberg, que já tinha surpreendido a todos com o Pro-24. Sua maior inovação foi a interface gráfica de arranjos, que mostrava uma representação gráfica da composição usando uma lista vertical de pistas e uma linha de tempo horizontal. A facilidade e rapidez de uso era a marca da casa e isso foi evoluindo e sendo melhorado ao longo dos anos.
Mas foi outro o primeiro momento para a história do Cubase: Cubase VST 3.0 (1996). A Steinberg revolucionou a forma de produzir áudio dentro de um computador: um estúdio de Áudio e MIDI integrado e com efeitos e geradores de sons em tempo real. Este conceito tão cotidiano hoje em dia, era uma verdadeira revolução naquela época, onde a única forma de ter efeitos digitais integrados era fazer uso de caríssimos sistemas baseados em DSP.
Após mais de dez anos de alterações e versões, o ambiente do Cubase começava a se ver fragmentado e antiquado, motivo pelo qual a Steinberg aproveitou o motor do Nuendo, um projeto paralelo orientado para ambientes de alto nível de exigência. Com uma interface mais renovada e integrada, o Nuendo e o Cubase (SX1 em sua primeira versão paralela) foram compartilhando características de forma escalonada até chegar nesta versão 6, a que estamos nos referindo.
Os pilares da versão 6
As necessidades dos usuários foram aumentando ao longo dos anos: enquanto que todas as DAWs (Digital Audio Workstation, estações de trabalho de áudio digital) possuíam características muito parecidas, cada fabricante mantinha sua identidade à sua própria maneira. A Steinberg sempre manteve um delicado equilíbrio entre a usabilidade e as funções, adotando modelos mais modernos de interface de usuário onde outros fabricantes eram menos audazes (o caso do Pro Tools, por exemplo).
Se no Cubase 5 a lista de características era impressionante, com a versão 6 mais características foram incorporadas, e em áreas muito importantes:
- Edição de baterias multipista e quantização.
- Edição multitomada, com grupos de edição.
- VST Expression 2.
- Melhorias nos algoritmos de alteração de tonalidade.
- Novos instrumentos virtuais e efeitos de alta qualidade.
- Melhorias na interface e nas ferramentas.
- Melhoria no MediaBay.
- Versão de 64 bits para Mac e Windows.
A integração é tudo
No Cubase 6 temos uma interface melhorada, herdada do Nuendo 5, com cores mais sóbrias e escuras onde foram unificados e alterados a maioria dos ícones obtendo-se uma versão mais sóbria e esquemática.
Como usuário do Nuendo (e do Cubase), quando vi a versão 6, a primeira impressão que tive é que tudo era igual, mas as diferenças existem. Com alguns minutos de trabalho nos acostumamos com a posição das novas coisas, nos habituamos aos novos ícones de algumas funções e, agora temos que clicar-duplo para alterar qualquer parâmetro, seja ele qual for. À priori, tudo parece estar em seu lugar e, salvo essas mudanças cosméticas, não há nada de especialmente novo e emocionante. A realidade é que todas as novidades mais importantes estão ocultas e perfeitamente situadas nos locais que lhes correspondem. O usuário habitual desta plataforma pode começar a trabalhar sem notar grandes diferenças, ao não ser que ele utilize Mac: a velocidade do ambiente. Onde um projeto do Nuendo 5 cheio de efeitos pode chegar a ser desesperador quando carregado, o Cubase se desenvolve com uma velocidade impressionante. Apesar de não termos feito testes científicos que demonstrassem isso, podemos dizer que o rendimento do motor de áudio foi em muito melhorado, o que permite um pouco mais de desafogo da CPU. Mesmo que, honestamente, somente com uma melhoria na resposta, ainda sim, nos parece que compramos um computador novo.
A compatibilidade cruzada entre o Nuendo e o Cubase torna muito simples mover trabalhos entre eles. Os projetos de ambos programas carregam perfeitamente, sendo ignoradas as características impróprias de cada versão.
Uma vez trabalhando e conhecendo mais a fundo o programa, começamos a perceber esses detalhes que, com a versão seis, tornam a nossa vida bem mais fácil.
Editando Baterias
Quando produzimos ou mixamos, nem sempre a bateria atende nossas expectativas. Quando se trata de uma pequena correção, corrigir manualmente é mais rápido e eficaz, mas se a gravação é um verdadeiro desastre, a edição se transforma num grande pesadelo.
Como solução a Steinberg melhorou suas ferramentas de detecção de transientes e quantização de áudio, que já existiam em versões anteriores, tornando-as mais precisas e em multipista, nos permitindo assim aplicar uma correção sem problemas com as fases. Este processo é menos intuitivo do que poderíamos esperar, mas o manual traz tudo muito bem explicado e o resultado é muito mais que ótimo.
Sem estar estritamente reservado para edição de baterias, o novo algoritmo de detecção de transientes é muito mais preciso.
A quantização das trilhas se faz tomando como referência os transientes de uma ou várias trilhas, onde atribuímos uma preferência. Desta forma, nenhum golpe escapa da quantização.
Um caso muito comum é quando gravamos sem metrônomo, ou então quando o baterista tem problemas em segui-lo. Até hoje, a única forma de fazer isso era criando um metrônomo MIDI e atribuindo ele a um mapa de andamento. Nesta nova versão foi incorporada uma versão que funciona muito bem, ela detecta automaticamente o andamento e nos deixa fazer alguns pequenos ajustes na precisão e nas subdivisões.
Outra mudança que está estritamente relacionada com o mundo da bateria acústica é a inclusão de novos modos de ajuste de tempo (time stretching). Especialmente nos agradou o modo “tape”, que altera a afinação do som com relação à sua duração.
Em busca da tomada perfeita
Outra função que foi em muito melhorada é a de compilar a melhor tomada a partir de várias tomadas de um mesmo trecho do projeto.
Neste caso, as tomadas vão sendo empilhadas e se cria uma pasta virtual, que uma vez aberta, nos permite selecionar e modificar os melhores trechos de cada tomada. Também é possível selecionar um trecho de uma tomada e ativá-lo com um simples clique-duplo. Se por si só a ferramenta já funcionava estupendamente, as novas alterações aceleraram e refinaram o processo.
Nós gostaríamos de ter a opção de fazer playlists com as tomadas, assim como fazemos no Pro Tools, mas fora isso, é realmente uma ferramenta estupenda.
Dentro da mesma categoria foi adicionada uma pequena funcionalidade que economiza bastante tempo: usar como grupo. Este botão ativa todas as trilhas de uma pasta para que possamos modicá-las todas ao mesmo tempo, o que é muito útil para qualquer gravação multipista.
VST 3.5
Com certeza a inovação mais importante e notável do Cubase 6 é o suporte padrão da Steinberg, o VST 3.5 e seu aporte mais destacável é o controle de expressão por nota. Resumindo, consiste em poder manejar certos parâmetros em nível de nota, ao invés de, como até agora, em nível de canal. Isto nos abre um mundo infinito de possibilidades, em que cada nota pode ser articulada e controlada com um nível de detalhe tão fino quanto o instrumento virtual permitir.
Considerando o potencial que possui no mundo do sintetizador virtual, vemos com sendo sua aplicação mais direta os instrumentos virtuais de orquestração, onde cada nota pode ser articulada de forma independente, e também podemos imaginar em situações como vários pontos de uma trilha de violão virtual onde podemos controlar a pulsação e a expressão de cada nota, ou ainda numa bateria acústica onde podemos controlar cada golpe com bastante detalhe.
A integração da nova funcionalidade no fluxo de trabalho é exemplar sendo uma lástima que somente se possa usar isso em instrumentos virtuais que cumprem o padrão, o que por enquanto está limitado unicamente aos VSTi´s da Steinberg. Mesmo que seja possível vermos instrumentos de outros fabricantes que venham a suportar essa funcionalidade, acreditamos que a quantidade de opções será muito limitada. Muitos desenvolvedores preferem continuar usando o velho VST 2.4, visto que é esta a opção mais utilizada pelos outros sequenciadores compatíveis.
O restante
Os efeitos e instrumentos que acompanham o Cubase são de grande qualidade, primando pela limpeza sobre a emulação analógica. Com o Cubase 6 chegaram várias novidades interessantes, entre as quais, destacamos:
⁃ Halion Sonic SE. Um rompler que substitui o Halion One (que também acompanha o pacote). Possui uma biblioteca muito ampla e variada com cerca de 1000 sons, com bancos compatíveis GM. A qualidade é variada, desde sons muito ruins a alguns simplesmente deslumbrantes, passando por uma boa coleção de sons clássicos e muito úteis. Destaca-se o piano, que é derivado da estação de trabalho Yamaha S90ES, sem dúvida um dos melhores. Nos causa curiosidade que a Steinberg continue insistindo em não inserir um sampler completo nesse pacote, o que obriga a maioria dos seus usuários a buscar alternativas no Kontakt ou no próprio Halion, que por sua vez, vem muito renovado em sua 4ª versão.
⁃ VST Amp Rack. Um novo simulador de amplificadores de guitarra que permite o posicionamento de microfones. Ainda não desbanca o amplificador e a pedaleira do dia a dia, mas soa bastante melhor do que tudo o que já apareceu em versões anteriores e está em condições de brigar de igual para igual com produtos de outras empresas.
⁃ Loopmash 2. Loopmash é uma ferramenta para quantização e permutação de loops, muito interessante dentro do arsenal de instrumentos do Cubase. Na versão 2 teve a quantidade de parâmetros modificáveis ampliada e controle melhorado.
Outra novidade é a esperada versão 64 bits para Mac. Neste caso temos que levar em consideração que existem muitas opções, como a de exportar para MP3, que não estavam disponíveis nesta versão e que vieram a ser incorporadas em sucessivas atualizações.
Em uso
Afinal de contas como o Cubase 6 se comporta?
Quando a Steinberg nos possibilitou a oportunidade de testar o programa decidimos fazer o seguinte: usá-lo em nossa produção diária. Depois de alguns dias de pouco trabalho nos vimos frente a um projeto de envergadura onde realmente poderíamos ver o potencial do Cubase 6: mixar um disco com 48 trilhas de áudio, um monte de artistas diferentes que usaram um mesmo microfone e um instrumental muito rico.
Ver captura completa das trilhas (1,6 MB)
Mesmo que isso nos dê margem para uma série de tutoriais completos, a maior dificuldade de mixar ao vivo é o posicionamento dos microfones. Muito próximos da fonte, a sonoridade pode ficar fora do contexto. Muito afastados, pegam tudo o que está ao redor. Neste caso concreto havia uma mixagem de ambos, mais agravado devido a performance de alguns músicos convidados, mesmo com tudo pra dar errado, com o “headroom” nada distorceu em nenhum momento.
Com um projeto de tais dimensões esperávamos que o Cubase, assim como o Nuendo 5, tivesse problemas para reproduzir trilhas tão grandes (muitas delas duplicadas), com muitos efeitos, reverberações, e etc. O certo é que, como dissemos no início deste artigo, fomos surpreendidos pela excelente resposta do programa e, sobretudo, as melhorias na automação, o que possibilita modificar trechos de forma rápida e simples.
A estabilidade é outro ponto forte desta versão 6, sendo a primeira edição de uma versão do Cubase com grau de confiabilidade de versões anteriores. Tivemos alguns problemas, mas estes foram motivados pelos plug-ins não estáveis, e não pelo programa. Ainda bem que a época das versões recém-lançadas do Cubase e Nuendo pouco estáveis acabou.
Obtivemos a informação do Sr. Stefan Trowbridge, encarregado da relações públicas da Steinberg, que o motor do programa sofreu grandes melhoramentos.
Cubase 6 VS Nuendo 5
Nós usuários perguntamos, perdemos alguma coisa ao usar o Nuendo 5? Todas as novidades do Cubase 6 não estão no Nuendo 5? No mínimo é curioso quando estamos falando de um programa que custa 4 vezes mais, mesmo que a Steinberg prometa incluir algumas delas na próxima revisão de verão. O que não está no Cubase são as opções avançadas de automação (um dos grandes trunfos do Nuendo), as opções avançadas de roteamento de sinais, manuseio avançado de marcadores e algumas funções muito úteis de exportação e importação. Continua sendo muito polêmica a política de versões da Steinberg, que ao contrário da tradicional e mais lógica, adotada pelas outras empresas, faz com que o seu programa carro-chefe (Nuendo) não possua funções que correspondam ao seu preço e posicionamento no mercado, sem contar que os usuários do Nuendo não podem usar a sua licença para abrir o Cubase.
Outra coisa. Também é curioso que os instrumentos VST3 instalados no Cubase ou Nuendo não possam ser usados em nenhum outro programa que não seja o original, mesmo com a chave de proteção (eLicense). É algo muito frustrante ter uma licença com todos os novos plug-ins do Cubase e não podermos utilizá-los no Nuendo, por limitações impostas pelo fabricante, quando se supõe que pagamos por eles.
Conclusões
O Cubase 6 se mantém como uma estação de trabalho que se sobressai das outras, completa, com um ambiente rápido e com mais que excelentes ferramentas de edição. As novas opções são simplesmente perfeitas e a estabilidade do programa o torna uma grande opção tanto para profissionais como para amadores.
Os prós
- Possui o ambiente de edição mais rápido de todas as DAW´s que já vimos até hoje.
- Os efeitos e instrumentos incorporados cobrem uma ampla variedade de situações, quase não sendo necessário adquirir plug-ins de outros fabricantes.
- As novas ferramentas estão muito bem pensadas e resolvem os problemas com maestria.
- A ferramenta de edição de bateria é simplesmente sublime.
- O VST 3.5 é uma grande inovação com grande futuro.
- A mixagem multicanal está muito melhorada.
Os contras
- Não possui um sampler completo e integrado.
- Os instrumentos VST3 incluídos não podem ser usados fora do Cubase.
- O sistema de roteamento poderia ser mais flexível.
- A versão para Mac possui um rendimento equivalente bastante inferior à versão PC, em baixas latências, muito pior que outras alternativas para Mac.
- Os usuários do Nuendo 5 não tem licença grátis com a mesma chave.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.